segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Devo levar o meu filho ao psicólogo?: parte 2

Há umas semanas atrás partilhámos o artigo: Devo levar o meu filho ao psicólogo?, de Maria do Céu Salvador, psicóloga e diretora clínica do Psikontacto. Hoje vai a segunda parte, com alguns indicadores aos quais devemos estar atentos, mas que só por si, não dizem nada ! O contexto da crianças, os acontecimentos de vida, a intensidade, frequência e interferência dos problemas no dia-a-dia da criança também devem ser tomados em consideração. Para estarmos mais atentos e informados, partilhamos este texto, também da Céu Salvador. Boa leitura.

Compreender e lidar com os filhos seria muito mais fácil se eles viessem com manual de instruções. Como não vêm, são necessários critérios que ajudem a distinguir uma dificuldade normativa e transitória de um problema que necessita de intervenção. Ter informação acerca de algumas perturbações mais comuns, pode ser útil, não para rotular a criança, mas para reconhecer sinais clinicamente significativos e atuar. Assim sendo, apresentamos alguns desses indicadores, aos quais pais e outros profissionais devem estar alerta e requerer ajuda profissional.
- Enurese: emissão repetida de urina, durante o dia e/ou durante a noite, na cama ou nas roupas, pelo menos 2 vezes por mês durante 3 meses consecutivos, na ausência de uma razão médica e em crianças com, pelo menos, 5 anos de idade.
- Hiperatividade com Défice de Atenção: excesso de desatenção, impulsividade e/ou hiperatividade, em dois ou mais contextos, pelo menos durante 6 meses e com um início anterior aos 7 anos, que interferem significativamente com o funcionamento social, académico ou familiar.
- Perturbação de Oposição: comportamentos sistemáticos de desobediência e oposição, com uma duração mínima de 6 meses e com uma interferência significativa.
- Perturbação da Leitura, da Escrita ou do Cálculo: o rendimento da leitura, escrita ou cálculo situa-se muito abaixo do nível esperado para a idade, escolaridade e inteligência da criança, não é devido a qualquer défice visual, auditivo ou neurológico e interfere significativamente com o rendimento escolar.
- Ansiedade de Separação: ansiedade persistente, excessiva e inapropriada para a idade relativamente à separação de pessoas significativas (pais), com uma duração mínima de 4 semanas, que provoca mal-estar significativo ou interferência nalguma área de atividade (por ex., recusa escolar).
- Fobia Social: medo acentuado e persistente e/ou recusa de situações sociais ou de avaliação (por ex., interação com colegas da mesma idade ou testes na escola). Estas dificuldades interferem significativamente com o bem-estar ou com as rotinas normais e duram, pelo menos, há 6 meses.
- Mutismo Seletivo: recusa persistente em falar, em situações em que se espera que o faça (por ex., jardim de infância/escola), apesar de compreender a língua e falar noutras situações, com uma duração mínima de1 mês.
- Depressão: manifestação, pelo menos durante 2 semanas, de sintomas como tristeza, choro fácil ou irritação, diminuição clara do interesse em quase todas as atividades, diminuição ou aumento do apetite, do sono, ou da atividade motora e sentimentos de desvalorização pessoal.
Estes indicadores, por si só, não chegam para considerar uma situação como clínica, nenhum manual consegue operacionalizar a imensidão de características de cada criança, de cada pai, de cada contexto e, mais difícil ainda, a imensidão de combinações possíveis entre toda esta informação, para determinar como compreender e agir perante cada caso específico. Tal compreensão e a consequente atuação ficarão sempre dependentes do conhecimento da criança e dos seus contextos, bem como dos conhecimentos técnicos e da arte do psicólogo para criar, em colaboração com todos, mais e melhores formas de contribuir, de uma forma decisiva, para a construção de um desenvolvimento harmonioso.





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