Compreender e
lidar com os filhos seria muito mais fácil se eles viessem com manual de
instruções. Como não vêm, são necessários critérios que ajudem a distinguir uma
dificuldade normativa e transitória de um problema que necessita de
intervenção. Ter informação acerca de algumas perturbações mais comuns, pode
ser útil, não para rotular a criança, mas para reconhecer sinais clinicamente
significativos e atuar. Assim sendo, apresentamos alguns desses indicadores,
aos quais pais e outros profissionais devem estar alerta e requerer ajuda
profissional.
- Enurese:
emissão repetida de urina, durante o dia e/ou durante a noite, na cama ou nas
roupas, pelo menos 2 vezes por mês durante 3 meses consecutivos, na ausência de
uma razão médica e em crianças com, pelo menos, 5 anos de idade.
- Hiperatividade
com Défice de Atenção: excesso de desatenção, impulsividade e/ou
hiperatividade, em dois ou mais contextos, pelo menos durante 6 meses e com um
início anterior aos 7 anos, que interferem significativamente com o
funcionamento social, académico ou familiar.
- Perturbação
de Oposição: comportamentos sistemáticos de desobediência e oposição, com
uma duração mínima de 6 meses e com uma interferência significativa.
- Perturbação
da Leitura, da Escrita ou do Cálculo: o rendimento da leitura, escrita ou
cálculo situa-se muito abaixo do nível esperado para a idade, escolaridade e
inteligência da criança, não é devido a qualquer défice visual, auditivo ou
neurológico e interfere significativamente com o rendimento escolar.
- Ansiedade de
Separação: ansiedade persistente, excessiva e inapropriada para a idade relativamente
à separação de pessoas significativas (pais), com uma duração mínima de 4
semanas, que provoca mal-estar significativo ou interferência nalguma área de
atividade (por ex., recusa escolar).
- Fobia Social: medo acentuado e
persistente e/ou recusa de situações sociais ou de avaliação (por ex.,
interação com colegas da mesma idade ou testes na escola). Estas dificuldades
interferem significativamente com o bem-estar ou com as rotinas normais e
duram, pelo menos, há 6 meses.
- Mutismo
Seletivo: recusa persistente em falar, em situações em que se espera que o
faça (por ex., jardim de infância/escola), apesar de compreender a língua e
falar noutras situações, com uma duração mínima de1 mês.
- Depressão:
manifestação, pelo menos durante 2 semanas, de sintomas como tristeza, choro
fácil ou irritação, diminuição clara do interesse em quase todas as atividades,
diminuição ou aumento do apetite, do sono, ou da atividade motora e sentimentos
de desvalorização pessoal.
Estes indicadores,
por si só, não chegam para considerar uma situação como clínica, nenhum manual
consegue operacionalizar a imensidão de características de cada criança,
de cada pai, de cada contexto e, mais difícil ainda, a imensidão de combinações
possíveis entre toda esta informação, para determinar como compreender e agir
perante cada caso específico. Tal compreensão e a consequente atuação ficarão
sempre dependentes do conhecimento da criança e dos seus contextos, bem como
dos conhecimentos técnicos e da arte do psicólogo para criar, em colaboração
com todos, mais e melhores formas de contribuir, de uma forma decisiva, para a
construção de um desenvolvimento harmonioso.
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